Namaskar!

Welcome! Bem-Vindos! Bienvenidos! Bienvenus!
Ensaio geral... Primeiros passos no mundo da blogosfera.
Muitas aprendizagens a fazer pelo caminho.
Duas frases de hoje:
1ª de promoção da leitura na Crosswords, livraria em Puna, Índia do Sul:
"You don't open a book, You open a mind".
2ª, ao acaso, nas obras de M. Yourcenar:
"Puisque le Temps est le sang des vivants, l'eternité doit être du sang d'ombre"

terça-feira, 27 de abril de 2010

Cinefilia (s)

Podia viver sem ir ao Cinema? Claro que podia... mas a minha vida seria bem menos rica. E, para mim, "Cinema" implica ver os filmes nas Salas de Cinema, de preferência com o nariz colado ao écran, como R.Barthes dizia que só as crianças e os cinéfilos gostam de fazer.
À minha amiga I.S., que preferia ver os DVDs, na bela sala lá de casa, costumava eu dar "dicas" acerca dos filmes "a não perder".
Tinha como filme favorito o mítico "L'Année Dernière à Marienbad", realizado por Alain Resnais em 1961, com argumento de A. Robbe-Grillet, com a belíssima Delphine Seyrig, vestida por Coco Chanel. Em tempos contei-lhe a minha emoção ao ver e ouvir ao vivo a encantatória voz desta actriz, num dos Festivais de Cinema da Figueira da Foz.
Claro que também gostava muito de "Hiroshima, Mon Amour" (1959), baseado no livro homónimo de M. Duras.
Desconfio que dificilmente lhe incluíria na lista o mais recente filme do mestre A. Resnais "Les Herbes Folles" ("As Ervas Daninhas"). Mais depressa lhe recomendaria "Parlez-moi de la pluie" ("Deixa chover") realizado e interpretado por Agnès Jaoiu, que em parceria com o marido escreveu o argumento de 2 filmes de A. Resnais "Smoking/Non Smoking" e "On connaît la Chanson".

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Dor sem nome

Um Adeus, como todos, imenso

" A amizade não é uma dádiva, é uma espécie de tesouro escondido que só se alcança depois de ter vencido longamente caminhos e tempestades, e passado portas e enfrentado monstros e dragões, e voltado muitas vezes atrás e recomeçado de novo a partir da solidão e do exílio.
Por isso, a perda de um amigo é de facto (não apenas metaforicamente ou simbolicamente), a perda de uma parte de nós. Porque somos feitos da confusa e inconstante matéria da memória, da nossa própria e da memória dos outros (a nossa memória dos outros e a memória dos outros em nós) e cada um de nós pode também dizer de si: "Eu era um tesouro escondido, e precisei de ser revelado..."
Daí, quando um amigo morre, a impressão de desamparo, de que tudo perdeu de repente peso e dimensão, de que o Mundo se tornou um lugar desconhecido onde temos que, de novo, aprender penosamente a viver. Porque a morte de um amigo nunca é coisa esperada, é algo que desde o mais fundo de nós somos incapazes, por mais que as circunstâncias nos forcem a admiti-lo de conceber. (...) E, de cada vez , nunca é dos amigos que me despeço, é sempre de mim mesmo."

Hoje peço emprestadas ao meu amigo Manuel António Pina as palavras que escreveu, na sua crónica do Jornal de Noícias em 4 de Janeiro de 2006, na morte de Cáceres Monteiro.
As minhas palavras (ainda) estão afogadas com a perda da Ilda S., Amiga tão querida e tão próxima, ao longo de quase quatro décadas. Dor sem nome...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Dia Mundial da Terra

Oferenda

Que a nossa mãe terra se envolva
numa quádrupla túnica de farinha branca,
que se encha de flores de geada;
e além, em todas as montanhas cobertas de musgo,
de frio se acheguem os bosques uns aos outros;
e os braços das árvores se quebrem ao peso da neve,
e fique assim a terra:
- Esculpi os bastões da oração em forma de seres vivos.

Versão: Herberto Helder
América do Norte, Zunhis
in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio e Alvim

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O vulcão do nosso descontentamento

Ficar uma semana inteira sem escrever aqui, quase me bloqueia, no momento de recomeçar.
Dá vontade de citar uma passagem das Geórgicas (II,157) de Virgílio, sobre a impossibilidade de enumerar todas as castas de uvas e de vinhos:
"As espécies e os nomes não têm fim, nem é útil enumerá-los um por um; quem saber o quisesse, poderia indagar quantos graus de areia Zéfiro levanta no deserto líbio... ou quantas ondas vão rebentar nas margens do Jónico."
Quantos voos cancelados, quantos passageiros por embarcar, quantos quotidianos alterados, quantas mudanças o acordar deste vulcão EYJAFJALLOJOKULL, com trema e nome impronunciável vai provocar nas nossas vidas? Talvez Umberto Eco as possa enumerar numa nova edição de "A Vertigem das Listas".
Pertenço ao número dos "happy few" cujo avião descolou poucos minutos antes do aeroporto de partida, no meu caso Orly, ter sido encerrado...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

"Sundays and Cybelle"

"Les Dimanches de Ville D'Avray", filme francês de Serge Bourguignon, realizado em 1962, vencedor do Óscar para o melhor filme estrangeiro de 1963, actualmente em exibição nalgumas salas em Paris, teve a sua estreia nos USA como o título "Sundays and Cybelle".
Publicitado como"Mythique", "Inédit depuis plus de trente ans", classificado como comédia dramática, a preto e branco, conta a história da comovente relação que se estabelece entre um antigo piloto de guerra amnésico, solitário e sensível, Pierre, e de uma menina também solitária e sensível, precocemente madura, abandonada pelo pai num orfanato. Talvez a sua cara lhe evoque a de uma outra criança, que talvez tenha morto durante um bombardeamento na Indochina.
Trata-se de um filme belíssimo, de atmosfera onírica e melancólica.
O único nome que reconheci no genérico, projectado em silêncio, perante uma plateia rendida, no "Le Champô", no Quartier Latin, foi o do compositor Maurice Jarre.
Gosto das cidades que têm sempre filmes clássicos em exibição, não só na Cinemateca mas também em pequenas salas estúdio...
Quem me dera que isso viesse a acontecer em Portugal também!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Gozo's appeal

"Its coast scenery many
truly be called
pomskizillious and
gromphibberous, being
as no words can describe
its magnificence."

Edward LEAR
Letter to Lady Waldegrave (1866)

Fewer and smaller roads, less sense of congestion and a calmer atmosphere and superb swimming and diving combine to produce a place of escape and relaxation.
Gozo... 14 km por 7km, um terço da superfície de Malta et pourtant!...
Glorious Gozo!!Um concentrado de cultura e história!
Ggantija, mas também a Cidadela, em Victoria (Rabat "a cidade" até 1897, quando o governador britânico lhe mudou o nome).
Tanto o Archaelogical Museum como o Folklore Museum valem bem uma visita demorada.
Nadar e mergulhar fica para a próxima...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Gozosightseeing

Terá sido em Xlendi Bay que os marinheiros de Ulisses abriram o saco que soltou todos os ventos ?!
A Calypso Cave, que ontem fotografei em "plongé", estaria por certo ao abrigo das intromissões de Eolo, ou Ulisses teria enlouquecido.
Ulisses também terá visitado os Ggantija Temples? Em caso afirmativo, e uma vez que à epóca não seriam apenas ruínas, como se terá sentido, perante tal magnitude?
"Regarded to be the oldest free-standing structures in the world, he largest megalith to be found of Ggantija Temples eighs about 50 tonnes and its walls reach a height of around seven metres. Altars and the remnants of a fire-reddned circular stone-hearth, possibly for eternal flame, can still be seen."
A arqueologia, como tudo na vida, de resto, faz muito mais sentido quando se vive "por dentro".

terça-feira, 6 de abril de 2010

Era uma vez

"Era uma vez
Um gato maltês.
Tocava piano
E falava francês.
... Queres que te conte outra vez?
Era uma vez
Um gato maltês.
Tocava piano
E falava francês.
... Queres que te conte outra vez?"

Quem não se lembra deste "Conto de nunca acabar?"
Essa do gato maltês falar francês... deve ser uma qualquer variante chauvinista.
O gato maltês é multicultural e fala muitas, muitas outras línguas. É fluente em maltês com os nativos do arquipélago (língua com 70% de palavras árabes) e desenvolto em inglês, com os turistas.
Amanhã, em Gozo, tentarei descobrir em que língua Ulisses e Calipso se entendiam...

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Top Ten

Reza a história ( a História?) que há muitos, muitos anos, Malta e a Sicília teriam estado ligadas entre si, e, ao continente europeu.
O Sul da ilha de Malta, por onde me passeei hoje ao longo de todo o dia, evocou-me, vivamente, a Sicília. Papoilas, palácios, templos e ruínas, amálgama de muitas e variadas culturas e civilizações.
Os templos pré-históricos de Hagar Qim e Mnajara, com uma espectacular envolvente natural, perto do Mediterrâneo, são mais antigos que as Pirâmides do Egipto... Um deslumbramento!
Il-lejl it-tajjeb!!!

domingo, 4 de abril de 2010

O sagrado e o profano

Entre as utilíssimas informações recolhidas no posto de turismo em Valletta, conta-se uma folha A4 sobre "Holy Week 2010. Pageants and Processions". Na Sexta-feira Santa, dia 2 de Abril, houve 13 (treze!!!) procissões nas ilhas de Malta e Gozo.
Desta feita, no dia 2 de Abril, não celebrei o aniversário do meu bom amigo H.C .Andersen nem de nenhum outro, mais ou menos próximo. Assisti, com muitas e muitas centenas de pessoas à impressionantíssima saída de dezenas de andores "dançantes" da Igreja de Ta'Giezu, que depois iriam percorrer algumas ruas do centro. Fora eu mais expedita e ilustraria estas palavras com uma das muitas imagens que colhi na altura.
Ainda a procissão percorria as ruas, quando um "apagão" de quase três horas teve lugar provocando o maior dos descalabros...

Sirocco

Sirocco!
A primeira vez que tal palavra ouvi foi na "Morte em Veneza" de L.Visconti. Reencontrei-a no texto de Lord Byron aqui transcrito e tenho aprendido a viver com a sua"materializada existência" ao longo dos últimos dias. Obriga-me a procurar os sítios mais abrigados, faz-me sentir sensata por transportar comigo um casaco mais quente, sopra as vestes dos andores nas procissões maltesas.
Dia de Páscoa com muito sol, muitos sinos ... e presença viva do "sirocco!"

sábado, 3 de abril de 2010

Around Malta

"For there is every variety of luxury,
animal, mineral and vegetable -
a Bishop and a daughter,
pease and artichocks, works in
marble and fillagree, red mullet,
and Archadeacon, Mandarin Oranges,
Admirals and Generals, Marsala
Wine 10d a bottle -religious proces -
sions, poodles, geraniums, balls, bacon,
baboons, books and what not."

EDWARD LEAR
Letter to Lady Waldegrave (13 February 1866)


"Adieu, ye joys of
La Valette!
Adieu, sirocco, sun and
sweat!
Adieu, thou palace rarely
enter'd!
Adieu, ye mansions where
I've ventured!
Adieu, ye cursed streets of
stairs!"

LORD BYRON
Farewell to Malta (1811)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Via Crucis

Uma Semana Santa singular, esta que me está a ser dado viver.
"Via Crucis - A musical meditation for Passiontide" assim se chamava o concerto que a Chamber Music Concerts deu hoje, às 12.30h em St. Catherine of Italy Church, em La Valletta, inscrito num programa de aquisição de fundos para restauro da Igreja "Restoring a Baroque Jewel".
Um pianista e uma voz feminina (soprano) interpretaram 14 peças, 14 momentos musicais, 14 estações da Via Sacra. A "Sarabande from English Suite No. 3 in G minor" de J.S. Bach, foi a música que se ouviu na 3ª, a 7ª e a 9ª: Jesus falls the first/ the second and the third time.
Poderia ter sido apenas mais um belo concerto, um dos muitos a que tenho assistido, só que, desta vez, na bela ilha de Malta.
Mas foi muito, mesmo muito, mais do que isso. Fui surpreendida e tocada pelo modo como tudo se encadeou. Cada peça musical era precedida de uma leitura breve dum texto, sobre episódios dramáticos da história da humanidade. Entre os 14 textos lidos, muito bem lidos, em inglês, contava-se um poema de Lorca sobre a Guerra Civil Espanhola e um poema de John Lennon e Yoko Ono sobre a Guerra do Vietnam.
Antes do concerto começar havia 14 velas acesas no altar, que foram sendo ritualmente sopradas no fim de cada uma das leituras.
Decididamente uma Semana Santa singular, esta que me está a ser dado viver...