Namaskar!

Welcome! Bem-Vindos! Bienvenidos! Bienvenus!
Ensaio geral... Primeiros passos no mundo da blogosfera.
Muitas aprendizagens a fazer pelo caminho.
Duas frases de hoje:
1ª de promoção da leitura na Crosswords, livraria em Puna, Índia do Sul:
"You don't open a book, You open a mind".
2ª, ao acaso, nas obras de M. Yourcenar:
"Puisque le Temps est le sang des vivants, l'eternité doit être du sang d'ombre"

domingo, 7 de agosto de 2011

Uma ofuscante ausência de luz

"Sonho com palavras, com ouvi-las e fazê-las entrar na minha cabeça, vesti-la com imagens, fazê-las girar num carrossel, guardá-las e voltar a passar o filme quando estou mal, quando a loucura espreita."

Tahar Ben Jelloun, Uma ofuscante ausência de luz, Asa

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Meu Querido Mês de Agosto

Não, não vou escrever sobre o filme "Meu Querido Mês de Agosto", filmado nas Beiras em sítios por onde andei há pouco, e que tão significativo é sobre o que é ser português hoje. Apenas recupero o título para "justificar" alguma ausência nestas lides virtuais, que de resto já vem de trás.
É tempo de grandes passeios, nos mares ( sendo o Egeu, povoado de 1400 ilhas o mais recentemente sulcado), nas serras (a de Sintra, uma vez mais visitada num passeio nocturno em enevoada noite de Lua Nova), nos livros (delicioso "Pranto por Vila Viçosa" de Rui Caeiro, que acabo de devorar), tudo na boa companhia dos Amigos, agulhas de marear da minha existência.

terça-feira, 19 de julho de 2011

O Tempo de um Corisco

Dos turcos desce a palavra
e aqui entreluz, naufraga.

A palavra a ninguém salva.

Melhor metê-la, sem esperança,
sem recado, na garrafa.

Sempre é da minha lavra.

Alexandre O'Neill,
Feira Cabisbaixa, Ulisseia

domingo, 17 de julho de 2011

Tanka

Vem já sem demora -
assim que estas flores abrirem,
logo irão cair.
Esta vida é como o brilho
do orvalho sobre as flores.

Isumi Shikibu
(974?-1034?)
O Japão no Feminino
TANKA Séculos IX a XI, Assírio & Alvim

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A gratuitidade de existir

Campo

Estou só nos campos
A doce noite murmura
A lua me ilumina
Corre em meu coração um rio de frescura
De tudo o que sonhou minha alma se aproxima.

Sophia de M.Breyner Andresen
Livro Sexto, Edições Salamandra

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Contra a corrente

Seven advice of MEVLANA

. In generosity and helping others be like a river
. In compassion and grace be like sun
. In concealing other's faults be like night
. In anger and fury be like dead
. In midesty and humility be like earth
. In tolerance be like a sea
. Either exist as you are or be as you look

Hz. MEVLANA

Texto em inglês dum postal bilingue, que trouxe de um templo, na minha última ida a KONYA, a cidade dos "derviches tourneurs" na Turquia.

domingo, 3 de julho de 2011

Yogena Cittasya

Nesta circunstância, como em qualquer outra, parar é morrer. Demasiado drástico. Não é bem isso. Trata-se tão só da dificuldade de recomeçar, quando se interrompe uma rotina. Também no Iyengar Yoga é assim. Se paro, uma semanita que seja, tudo se torna mais difícil, o corpo parece perder flexibilidade. Et pourtant, a pouco e pouco ela regressa, mas nunca como nas aulas no R.I.M.Y.I., em Puna, que gostaria de voltar a frequentar um dia.
"My body are my temple and asanas are my prayers".
Não fora a prática regular e teria metade da energia e da força de viver. Aqui, como na India, repito o mantra inicial:
Yogena Cittasya Padena Vacam
Malam Sarirasya Ca Vaidyakena
Yopakarottam Pravaram Muninam
Patanjalim Prajalir Anato'smi
Abahu Purusakaram
Sankha Cakrasi Dharinam
Sahasra Sirasam Svetam
Pranamami Patanjalim

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Olá Caeiro!

Estar
triste
é apenas
estar
doente

É preciso
encontrar
cura
não razões.

E a cura
é
sobretudo
deixar
passar.

Teresa Rita Lopes
A Fímbria da Fala
editorausência

sábado, 18 de junho de 2011

Là Haut Sur La Montagne

Hoje meditei numa distante falésia
Depois de muito tempo bruma e nuvens retiraram-se

Um só caminho: o curso da fria água clara
Ao longe o cimo dos montes verdejantes

Calma e sombra matinal das núvens brancas
A luz do luar brilhante flutua

No meu corpo não há pó nem sujidade
Porque está meu coração inquieto?


Han-San
O vagabundo do Dharma, Cavalo de Ferro

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Decir LLuvia y que llueva

"Un patio cualquiera de un edificio cualquiera. Es curioso... En la niñez el patio es cobijo de la imaginación. Es sueño. Es juego. Es pesadilla. Es miedo. Es un tiempo nunca perdido.
Con los años, sin quererlo, la mirada se hace miope al misterio, y el patio ya solo alberga soliloquios y diálogos triviales. Se convierte en un ligar de transito donde la prisa es el agujero por donde cae el tiempo.
Y si jugamos y conjugamos los tiempos? Y si nos asomamos al patio de la infancia con los ojos aún mayores? Y si por un día esperamos a la lluvia para que refresque nustras vidas?"

Kabia - espacio de investigación de Gaitzerdi Teatro

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Mad Rush, Metamorphosis e outros prodígios

No dia em que foram descobertas mais 17 novas pirâmedes, na necrópole de Saqqara, no Egipto, ouvi pela primeira vez ao vivo Philip Glass, na Casa da Música. Foi um concerto relativamente breve, cerca de 90m sem intervalo, já a contar com os dois encores.
A Sala Suggia foi um prolongamento da minha própria sala, onde tantas e tantas vezes soaram Mad Rush, Metamorphosis, Wichita Sutra Vortex.
Numa sala cheia, incluindo os lugares por detrás do palco, um público atento rendeu-se à magia desta música "minimanista", interpretada pelo seu criador. Em Wichita Vortex Sutra, fez-se presente o fantasma do poeta beat americano Allen Ginsberg, que colaborou com Philip Glass, através da audição de uma gravação da sua voz.
E quem mais quiser saber, tem muito para ver e ouvir no You Tube e no profissionalíssimo site deste músico.
Por mim, preparo-me para adormecer uma vez mais ao som da banda sonora de Kundum...

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Medeia

A Medeia de Eurípedes data de 431 antes de Cristo. A revisitação do texto feita por Max Rouquette (1908-2005), que situa a acção no continente africano,em vários momentos me evocou Shakespeare. Perturbadora esta "Médée", com encenação de Jean-Louis Martinelli, integrada no programa Odisseia, que acabo de ver numas instalações, extremamente cénicas, de um antigo armazém nos Arcos de Miragaia, no Porto.
Ainda sob o feitiço esmagador que me provocou a beleza feroz desta Medeia negra, que faz pensar com Heiner Muller que os povos africanos são hoje os únicos que podem tocar de perto a essência do trágico, transcrevo um fragmento do comentário que acompanha a peça:
"No terreno (Burquina Faso)Martinelli descobriu o porquê desta proximidade entre a Grécia Antiga e a África contemporânea: a violência e a guerra, o nascimento balbuciante da democracia e a omnipresença do sagrado na vida quotidiana. (...) É nesta paisagem desoladora que ecoam as imprecações desta feiticeira sedenta de vingança que vai até ao impensável para punir a traição de Jasão."

sexta-feira, 20 de maio de 2011

AnimaMea

Uma das muitas iniciativas, interessantes e originais, integrada na celebração do Dia Internacional dos Museus foi o magnífico concerto que o Coro AnimaMea deu esta noite na sala onde moram algumas estátuas de Soares dos Reis, no Museu do mesmo nome, que esta noite me encheu a alma.
"Aquela cativa que me tem cativo" - Camões, Poesia e Música, em perfeita sintonia!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

à vol d'oiseau...

Tantos seriam os motivos de referência, reflexão e escrita, que quase me sinto bloqueada. Se escolher falar de cinema, e para que conste POESIA, filme de um realizador coreano que, muito justamente ganhou em 2010 o prémio de melhor argumento no Festival de Cannes. E, num outro registo, mas igualmente rico do ponto de vista de análise de sentimentos e relações humanas MÃES E FILHAS, filme americano produzido por A. Inarritu. Se escolher falar de cinema+dança... PINA, do realizador alemão Wim Wenders, neste momento em exibição. A não perder!!! E como a opção pelo 3D faz sentido aqui! Pensar que ainda este mês me foi dado ver claramente visto alguns dos bailarinos/bailarinas de Pina Bauch dançar no TNSJ, aqui no Porto, num espectáculo integrado no já aqui amplamente referido ODISSEIA, faz-me sentir, uma vez mais "eleita". Também integrada neste ciclo, vi/ouvi/senti a leve e deliciosa versão da Flauta Mágica que o encenador Peter Brooks concebeu aos oitenta e muitos anos.
Se escolher falar de música, Steve Reich, também claramente visto/ouvido em palestra e concerto na Casa da Música.
Deixo de fora os céus, as cidades, as ilhas e os mares onde os meus passos me têm levado nos tempos mais recentes. As asas dos aviões dão asas às asas que tenho nos pés!

terça-feira, 17 de maio de 2011

Palavras encontradas

A porta está fechada
Um sorriso abre-a
Uma palavra também
Se for uma palavra chave.

Álvaro Magalhães
O Limpa-Palavras, Asa

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O estilhaçar do vidro

Os nossos dias fogem tão rápido como a água do rio
ou vento do deserto.
Entretanto há dois dias que me deixam indiferente:
o que passou ontem e o que virá amanhã.
Omar Khayyam,
Rubaiyat, Moraes

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Há um rio e o outro lado do rio

O tempo é o que se faz com ele. Há dias que se sucedem aos dias sem que nada de extraordinário pareça acontecer. Rotinas, mais ou menos securizantes, nas quais nos encaixamos e que vão contribuindo para dar algum sentido e alguma medida ao quotidiano. E há dias dilatados, intensos, brilhantes. Dias com afectos, dias com amigos, dias em que estamos exactamente onde queríamos estar.
E em todos, mas todos os dias que vivo, há sempre lugar para a palavra, para a Poesia, porto seguro neste mundo de (acrescidas) perplexidades.

Não é qualquer ilusão
se estes olhos com que vejo,
olhos brancos e doirados,
revelam que o que faço
me faz a mim, me desvela,
à vela numa viagem
onde não há outro porto
que o mesmo de viajar:
mas o que vejo e revejo,
se me salva e me transporta,
existe aqui com as cores
que não fui eu que lhe dei.

Pedro Tamen,
o livro do sapateiro, D.Quixote

quinta-feira, 14 de abril de 2011

De la musique avant toute chose

Momentos gratificantes, vividos nuns tempos particularmente intensos, ampliam o meu quotidiano, ambos vividos na Casa da Música. A brilhante aula que João Fernandes, Director do Museu de Serralves deu na segunda-feira sobre "Os Artistas", integrada no 4º módulo do Curso Livre de História da Música e o magnífico concerto a que acabo de assistir esta noite do pianista russo Grigori Sokolov, que tive a felicidade de ouvir tocar, já pela terceira vez.
Frederico Lourenço tinha razão quando escreveu que a música é uma espécie de cola que junta os pedaços da alma...

terça-feira, 12 de abril de 2011

Os olhos e a memória

Homenagem a Bashô

1.
Um mar azul
pintou de branco
o voo das gaivotas.
2.
com a lâmpada das suas
asas acesas, a libélula
ignora a noite
3.
o dia lega
à noite, em testamento
a lua.
4. Do sangue e dos músculos
da árvore faz
o picapau um templo.
5.
Despida, à tona
da água, a rã
vê-se ao espelho.
6.
no pico mais alto
da montanha a neve
é azul.

Albano Martins, Uma Rã Que Salta, Limiar

domingo, 10 de abril de 2011

Todo o mundo é composto de mudança

Dois dos melhores intérpretes de Commedia dell'Arte da actualidade



“Tornar-se-ão Bobos! Farão com que todo o mundo rebente a rir, com que cada temor seja envolto numa explosão de riso!”

Inspirada na tradição popular italiana, Fabula Buffa conta o nascimento do contador de histórias com o seu olhar irónico e grotesco sobre uma realidade nem sempre tranquilizadora. Dois pedintes da época pré-cristã, um paralítico e um cego, são milagrosamente curados contra vontade. São agora obrigados a enfrentar a realidade como as pessoas normais. Esta mudança traumática cria duas reacções opostas que conduzem à mesma trágica decisão: a de se suicidarem, quando eis que inesperadamente surge um outro milagre dos céus..."

Assim se refere a imprensa ao espectáculo brilhantemente interpretado pelos actores italianos Fabio Gorgolini e Ciro Cesarano, que tentaram comunicar em "italinês" com o público do Pequeno Auditório do Teatro Rivoli, hoje à noite, no Porto.

Estranho mesmo foi voltar àquele espaço, tão carismático da vida cultural portuense há uns anos atrás enquanto esteve sob a direcção de Isabel Alves Costa, e senti-lo tão descaracterizado.

Fogo sobre Fogo

Topázios

É tão difícil
manter o equilíbrio
sobre um raio de luz

Jorge Sousa Braga, O Poeta Nu
Assírio & Alvim

quinta-feira, 7 de abril de 2011

"Sinto-me como se tivesse cegado por excesso de olhar o mundo"

Antes o voo da ave que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.

A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos

quarta-feira, 30 de março de 2011

Plaisir d'amour

Conta-mo outra vez

Conta-mo outra vez: é tão bonito
que não me canso nunca de escutá-lo.
Repete-me outra vez que o par
do conto foi feliz até à morte.
Que ela não lhe foi infiel, que a ele nem sequer
lhe ocorreu enganá-la.
E não te esqueças que apesar do tempo e dos problemas
Continuaram beijando-se cada noite.
Conta-mo mil vezes por favor:
é a história mais bela que conheço.

Amalia Bautista, Qual é a minha ou a tua língua?
Assirio & Alvim

terça-feira, 29 de março de 2011

Do rio que tudo arrasta...

O GUARDA-RIOS

É tão difícil guardar um rio
quando ele corre
dentro de nós

Jorge Sousa Braga, O Poeta Nu
Assírio & Alvim

sábado, 26 de março de 2011

Dia Mundial do Teatro

O Dia Mundial do Teatro é já amanhã. E eu, espectactora assídua, habitada pelo "bichinho do teatro" desde os tempos de faculdade, em que integrei um grupo de teatro universitário, rumei ao Teatro Carlos Alberto para ver "Glória ou como Penélope morreu de tédio". Acontece que em noite de estreia, a lotação estava esgotada e a empregada da bilheteira sugeriu um espectáculo, igualmente integrado no programa "Odisseia", no Estúdio Zero, um pouco mais fora de mão na Rua do Heroísmo. E foi assim que em boa hora assisti, na primeira fila a "Holiday", da companhia australiana Ranthers Theatre.
"De Holiday pode dizer-se que é uma gentil provocação. Num pacato dia de férias dois estranhos descansam junto a uma piscina. Nada têm para fazer e provavelmente nada têm para dizer. Todavia, sob diálogos aparentemente inconsequentes e longos silêncios, circulam fantasisa íntimas, ansiedades e culpas encapotadas, inquietações que se plasmam em inesperadas canções barrocas, cantadas pelos actores em calções de banho. Uma incursão nas complexidades do chamado "homem simples", feita num frugal quadro cénico, uma das imagens de marca da companhia de Melbourne, a par do primado absoluto de uma representção viva."
Texto inserido no postal

quinta-feira, 24 de março de 2011

Ninguém há-de calar a Primavera!

Em Março se assinala o "Dia Mundial da Poesia", comemorado com grande pompa e circunstância no CCB no último domingo. Mas não será só por isso que ao longo deste mês me tenho servido de "palavras dos outros", que tantas e tantas vezes dizem melhor aquilo que quero dizer.
Mais logo, no TCA, ouvirei mais vozes de outros Poetas na sessão "Ninguém há-de calar a Primavera!" das Quintas de Leitura.
Nem só de poesia vive o homem... mas a vida sem poesia seria bem mais complicada!

Saudação à Primavera!

Quando Vier a Primavera

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.


Alberto Caeiro

terça-feira, 15 de março de 2011

Não uma rosa vermelha ou um coração de cetim

Caminho

que rua é esta que nos separa
ao longo da qual seguro a mão dos meus pensamentos
uma flor está escrita na ponta de cada dedo
e o fim da rua é uma flor que caminha comigo

Tristan Tzara,
Qual é a minha ou a tua língua?
Cem poemas de amor de outras línguas,
Assírio & Alvim

domingo, 13 de março de 2011

Le Temps des merveilles

Comment?

Comment va le monde?
Il va comme il va
La machine est lourde
On la traînera.

Comment va la vie?
Va comme on la pousse
Le sang se fait vieux
Le coeur s'est fait mousse.

Comment va l'amour?
Il avait tant plu
Que la terre est morte
On n'en parle plus.

Pierre Seghers,
Anthologie de la poésie française du XX siècle, Gallimard

La eternidad está en las cosas del tiempo...

"Não escolho a cor ou o feitio,
nem o ponto ideal,
nem o momento
de coser, de colar a quente ou frio.
Não escolho bem nem mal:
tento,
invento."

Pedro Tamen, O livro do sapateiro, D.Quixote

domingo, 27 de fevereiro de 2011

"As palavras são apenas uma memória"

Nem só a Física se debruçou sobre as questões da inércia. Sinto-as na pele. Quando paro por uns dias é sempre mais difícil recomeçar. Et pourtant temas não faltam sobre os quais tecer múltiplas variações. Mas não vou entrar, como é meu costume na "vertigem das listas", pelo menos de forma compulsiva. Das viagens, a neve, pontuada de coníferas, na Serra de Guadarrama e o Alcazar de Segóvia, que poderia ter sido arquétipo do castelo da Bela Adormecida de Walt Disney; dos filmes dois registos separados por mais de meio século: "Contos de Lua Vaga" de Kenzo Mizoguchi e "Somewhere" de Sofia Coppola; das exposições a ARCOmadrid 2011 e Artur Loureiro, no Museu Soares dos Reis no Porto; da Literatura , das "correntes d'escritas" a surpreendente conferência de abertura de Álvaro Laborinho Lúcio e a presença anarquista de Rui Reininho nas últimas Quintas de Leitura, no Teatro do Campo Alegre; no Iyengar yoga continuo em recuperativas. E logo é a noite dos óscares.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

City Life

Check it out
It's been a honeymoon
Can't Take no mo'

Heavy smoke
stand by, stand by
It's full'a smoke
urgent!
Guns, knives or weapons on ya'?
Wha'were ya'doin'?
Be careful
where you go

*frases gravadas, City Life - Steve Reich

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Aniversário de Ganesh na Amazónia

Há um ano na blogosfera! Há um ano que este blog foi criado em Puna, na Índia do Sul, e desde aí acrescentado por cerca de uma centena de "posts", escritos em lugares variados do Planeta Terra, onde me foi dado estar na última rotação do planeta, registando momentos, apontamentos, pensamentos, palavras minhas ou palavras de outros (sobretudo de poetas) que para aqui chamei.
Continuo sem saber muito bem para que serve, para quem escrevo, quem me lê. Registo e partilha, duas funções nobres, que em si, porventura justificam, este meu "ganeshnaamazonia".
Quantos antes de mim, quantos ao mesmo tempo que eu, quantos depois de mim, com semelhante ambição?
E vem-me à memória a frase de Teixeira de Pascoaes: "O homem, ao morrer, apaga com o último suspiro, o mundo em que viveu."

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

"A única coisa que temos é, de facto, o nosso corpo"

Quando o corpo se apaga, o que resta?
Talk Show é uma obra para quatro intérpretes e duas colunas de som. Um questionamento sobre o corpo enquanto sistema comunicante e sobre o seu desaparecimento ao longo da vida no território maior da sua evidência, o amor.
Acabo de assistir no Teatro Carlos Alberto a esse "road movie do corpo" que é esta surpreendente criação do coreógrafo Rui Horta.
Sob o signo da emoção, e de alguma fragilidade física que me tem assolado, somo-o, sem mais, às inquietudes que HearAfter, de Clint Eastwood me provocou. há uns dias atrás.
Bem que questiono, ou uma parte de mim questiona, a asserção de José Gil: a única coisa que temos é, de facto, o nosso corpo.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Música, músicas

Começou a 17 de Janeiro e prolongar-se-á até 7 de Novembro, na Casa da Música, às segundas-feiras, a 2ª edição do Curso Livre de História da Música. No 1º módulo, em 3 sessões, competentemente orientado por Rui Pereira, falou-se de Música Clássica no Novo Mundo. No 2ºMódulo, que se iniciou no dia 7, Manuel Jorge Veloso, grande divulgador cujo trabalho já conhecia de colaborações em programas da Antena 2, iniciou uma "Introdução à História do Jazz", recheada de ilustrações musicais. Difícil é permanecer sensatamente sentada na cadeira...

ORQUESTRA

Foi o foxtrote que acordou
os peixinhos do lago, na sala de espera,
ou foram eles, os minúsculos, insones peixinhos,
que fizeram acordar Sweet Georgia Brown
entre Body and Soul, para o tea for two,
enquanto não se abrem, rascantes, as portas da segunda sessão?

Carlos Drummond de Andrade
Esquecer para lembrar, José Olympio

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Os quatro cantos do tempo

Baptismo

Vamos abrir a noite Vamos abrir a noite
com música de "jazz" Percorrê-la depois

num barco de borracha Celebrar o segredo
Enforcar a memória Descobrir de repente

uma ilha que nasce dentro do teu vestido

Chamar-lhe Madrugada Adormecer contigo.

David MOURÃO-FERREIRA,
Os quatro cantos do tempo, Guimarães Editora

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

"Fala-me, Musa, do Homem astuto que tanto vagueou...

"Fala-me, Musa, do homem astuto que tanto vagueou, depois que de Tróia destruiu a cidadela sagrada. Muitos foram os povos cujas cidades observou, cujos espíritos conheceu, e foram muitos no mar os sofrimentos por que passou para salva r a vida, para conseguir o retorno dos companheiros a suas casas. Mas a eles, embora o quisesse não logrou salvar. Não, pereceram devido à sua loucura, insensatos, que devoram o sagrado gado de Hiperíon, O Sol - e assim lhes negou o deus o da do retorno.
destas coisas fala-nos agora, ó filha de Zeus."

HOMERO
Odisseia.Tradução de Frederico Lourenço, Lisboa, Cotovia, 2003

"De que falamos quando falamos da Odisseia?" - tema de um colóquio, organizado conjuntamente pelo TNSJ, Centro Cultural Vila Flor, Theatro Circo e Teatro de Vila Real, em colaboração com a União dos Teatros da Europa, que decorreu a 28 e 29 de Janeiro, no Mosteiro de São Bento da Vitória, no qual participei como membro da assistência.
A minha paixão pela Grécia Antiga, pela Mitologia Grega, acompanha-me desde a adolescência e Ulisses, é, sem sombra de dúvidas um dos meus Heróis.
A 1a versão/ adaptação da Odisseia que tive nas mãos foi a dos clássicos Sá da Costa, na adaptação de João de Barros, "para as crianças e para o povo".
Tive o privilégio de ser aluna, na Universidade de Coimbra, de Maria Helena da Rocha Pereira, sábia helenista, com quem tanto aprendi. Como Professora de Português li dezenas de vezes para/com os alunos a adaptação de Maria Alberta Menéres, o "Ulisses", capaz de entusiasmar mesmo os mais desinteressados.
A belíssima tradução em verso de Frederico Lourenço foi um dos livros que escolhemos, sob proposta minha, para ler numa das Comunidades de Leitores da BMAG, num período em que estivemos em "autogestão", tendo Frederico Lourenço acedido ao nosso convite de animar uma interessantíssima conversa à roda do seu trabalho de estudioso e tradutor.
Neste Colóquio sobre a "Odisseia" ouvi Delfim F. Leão e Maria do Céu Fialho, da Universidade de Coimbra, falar sobre o livro. Mas não foi apenas disso que se tratou. A Odisseia como metáfora do nosso tempo, a procura "nas origens literárias e mitológicas da nossa civilização as questões nucleares com que se debatem sociedades e indivíduos neste mundo contemporâneo", eis onde se encontram as linhas com que se teceu este encontro.
Provavelmente não por acaso, em Serralves, a par da polémica e gigante exposição "Às Artes, Cidadãos!", está a decorrer um programa que inclui cinema, conferências, música, perfomance, seminários e teatro sob o título genérico "Arte, Política, Globalização".
Tentativas de construção de plataformas de pensamento/acção transdisciplinares, no cruzamento de fronteiras geográficas (líquidas e outras) e disciplinares.
Também há motivos de interesse longe do Mekong...

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

OCK POP TOK

Ock Pop Tok =east meets west, ou saudades do Laos...
Com o frio que reina nesta terra a que regressei, a que tento
readaptar-me, com pouco sucesso, ainda não foi possível vestir nenhuma das blusas de seda que tem essa etiqueta.
"Who are we ad what we do?" Quem somos e o que fazemos? Esta é a pergunta repetidamente feita a propósito das muitas actividades que se praticam no Laos.
Ock Pop Tok existe desde 2000 e, tal como o nome indica, procura juntar ideias, pessoas e materiais à volta dos téxteis, para que haja troca de conhecimentos e de ideias entre povos de diferentes zonas geográficas. Em Luang Prabang, não só estivemos na loja e na galeria, como assistimos a uma conferência sobre a repetição de padrões, nos diferentes locais do planeta Terra. Um "tuk-tuk" gratuito levou-nos ao "Weaving Center", onde vimos uma belíssima exposição sobre os processos de produção de seda natural, as tintas naturais utilizadas para tingir, a tecelagem manual que, lentamente, progride nos diversos teares.
Tudo isto, numas instalações minimalistas belíssimas à beira do Mekong.
Correndo embora o risco de me repetir reafirmo que soubera eu mais destas lides e faria acompanhar estas palavras de alguns apontamentos fotográficos colhidos na minha Nikon.
Foi com enorme emoção que, um destes dias vi bem projectadas no écran de televisão em casa de amigos, o conjunto das muitas fotografias que fiz na Tailândia, no Laos e no Cambodja.
Ainda há muito para contar.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Originais e cópias certificadas

Mais uma semana? Menos uma semana? A tentativa de readaptação continua.
Concertos, idas ao cinema e ao teatro, início da frequência de um Curso Livre de História da Música.
Das idas ao cinema, destaco "Cópia Certificada", um filme do realizador iraniano Abbas Kiarostami, que valeu a Juliette Binoche o prémio de melhor actriz no Festival de Cannes, filmado numa Toscânia belíssima, embora o foco seja o encontro/desencontro entre um homem, escritor, e uma mulher, galerista.
Noutro registo, mas igualmente a valer a pena "O Mágico", desenho animado construído sobre uma ideia de Jacques Tati, com uma personagem central que se lhe assemelha, realizado por Sylvain Chomet, filme que tinha perdido em Serralves, na abertura da Festa do Cinema Francês.
Vi no TNSJ a mais recente criação do Teatro Meridional "1974", com encenação de Miguel Seabra, que "tem como objecto temático a identidade portuguesa, cruzando três períodos da história de Portugal: Ditadura, revolução de Abril e a entrada na comunidade europeia, reflectindo ainda a nossa contemporaneidade."
Objecto cénico interessante, mas que me deixou insatisfeita. Pouca profundidade? O espectador tem que preencher os espaços em branco? Acredito que para as novas gerações funcione de maneira diferente.
Como se lê no programa, num texto de José Mário Branco "Em tudo quanto fazemos estamos sempre a contar a nossa história pessoal, porque ninguém conta nada a ninguém sem recurso às emoções e só as emoções vividas são emoções comunicáveis".

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Poemas com cinema

Lentamente, quase diria timidamente, tento reencontrar os pequenos prazeres que a minha cidade tem para me oferecer. Já revisitei alguns Amigos, já passei uma tarde à beira Atlântico, belo e revolto. Ontem fui ao lançamento da antologia "Poemas com Cinema", publicada pela Assírio e Alvim. Além dos 3 organizadores, falaram os poetas Manuel Gusmão, Manuel António Pina (como sempre desconcertante!) e Ana Luísa Amaral e Daniel Jonas, que leram alguns dos poemas antologiados. A sessão terminou com um documentário de Fernando Lopes, produzido para a Porto 2001.

«CINEMA pretende ser a visitação de uma sala? “Sá da Bandeira”? cheia de tradições cinéfilas e hoje confinada à morte das imagens tradicionais do cinema. O “Sá da Bandeira” que passa filmes pornográficos testemunha, por um lado, a memória dessas imagens, a sua perenidade, mas também a sua morte, aquilo a que poderemos chamar a pornografia do cinema enquanto imaginário e ícone visual do nosso tempo – o de Aurélio da Paz dos Reis até à indústria do espectáculo. O título deste filme vem directamente de Carlos de Oliveira, poeta maior, e que sobre a fragilidade e fascínio das imagens teve fulgurantes reflexões.»

Fernando Lopes, O Olhar de Ulisses – vol 3, A Utopia do Olhar, Porto, 2001

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Segundo Balcão dos Bombeiros


Nesse tempo eu já lera as Bronte mas

como era um adolescente retardado

passava a noite em atrozes dilemas

que mais vale: amar, ser doutrem amado?


ainda não descobrira o simples disto

nem o essencial disto que é tão claro

se tudo no amor vem do imprevisto

deitar regras ao jogo pode sair caro


por isso eu amo e sou ou não benquisto

depende do instante bem ou mal azado

amor tem alegria, tem enfado

o happy end é coisa dos cinemas


Fernando Assis Pacheco, Poemas com Cinema, Assírio e Alvim, Lisboa 2010



quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O Mekong não é o rio que passa na minha aldeia...

De regresso ao Inverno, ao frio, ao céu cinzento, aos dias normais, aos computadores com teclados normais. Regresso aos bons abraços, aos bons amigos, às aulas de iyengar yoga (para já a "série recuperativa"), a projectos de trabalho interessantes.
Continuo a sentir-me sonâmbula, atordoada, como se a minha alma ainda estivesse por aí a pairar nalguma nuvem, entre a Ásia e a Europa. Tenho passado horas e horas a dormir, como se o corpo quisesse recuperar de todos os (bons) excessos a que foi sujeito ao longo de tantos e tantos dias de viagem.
Tenho que praticar um qualquer rito de renovação que me traga de volta o fio dos dias a viver.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ainda da Asia

Dias dificeis, os que passamos em Bangkok.. A poluicao, o calor, a dimensao da cidade, as multidoes...
Tempo bem aproveitado, ainda deu para passear de barco no Rio, percorrer as linhas aereas do sky train, que permitem as melhores panoramicas da cidade, visitar alguns templos, saudar o Senhor Buda de deitado (que emocao!), visitar o Museu Nacional (enorme, que tal como o Prado ou o Louvre, precisaria de muitas mais visitas), a casa do Jim Thompson, o mitico Oriental, por onde passaram tantos escritores amados... Isto sem contar com a visita ao mercado de fim de semana, a deambulacao pelas ruas, as massagens, as pequeninas compras...
Agora uma longa, longa viagem de regresso.
Espero que os Reis nos ajudem a encontrar a Estrela!

sábado, 1 de janeiro de 2011

Anicca

Anicca e um conceito budista de impermanencia, que, a medida que os anos se sucedem aos anos, ganha mais sentido para mim.
Noite de Ano Novo em Bangkok, primeiro dia de 2011 em Bangkok. Por muitas imagens que tivesse, das fotografias e dos filmes, estar aqui e completamente diferente. Nao e comparavel a nenhuma das cidades que me foi dado ver ate ao momento. O Blade Runner, a ficcao cientifica, a banda desenhada futurista, sao palidas imagens.
Quando acabarem estas cinco semanas de viagens, vou voltar a escrever com os acentos, as cedilhas e tudo a que tenho direito.

Bom Ano Novo! Feliz 2011!

Cambodia, a Kingdom of Wonders

Dias intensos, os que recentemente vivemos no Cambodia. Intensos de todos os pontos de vista. Tudo excessivo e um tanto irreal. Aterramos em Siem Reap, cidadezinha que vive do turismo, da proximidade de Ankgor Wat. Dias que comecavam as quatro da manha, para ver o nascer do sol, em Angkor Wat e noutros templos das proximidades e que se prolongavam para la do por do sol. Selva tropical, humidade, mosquitos, em alguns dos templos um numero excessivamente elevado de turistas, fotografando e fotografando se ate a exaustao.
Vi claramente visto os motivos pelos quais estes lugares sao Patrimonio Mundial da Unesco, e sao apelidados de 0itava maravilha do mundo. Angkor Vat, as Piramedes do Egipto, o Taj Mahal na India, Machu Pichu no Peru... falta me este ultimo.
Com uma tranquilidade que nao possuo neste momento, hei de voltar a escrever sobre estes sitios.
Tenho a maquina cheia de apontamentos fotograficos e a alma cheia de memorias.
Inesquecivel a fusao, a simbiose entre a natureza e as ruinas.
Nem sei se fiquei mais impressionada com as arvores se com as ruinas...
Agradeco aos deuses terem me permitido contemplar tanta beleza!