Namaskar!

Welcome! Bem-Vindos! Bienvenidos! Bienvenus!
Ensaio geral... Primeiros passos no mundo da blogosfera.
Muitas aprendizagens a fazer pelo caminho.
Duas frases de hoje:
1ª de promoção da leitura na Crosswords, livraria em Puna, Índia do Sul:
"You don't open a book, You open a mind".
2ª, ao acaso, nas obras de M. Yourcenar:
"Puisque le Temps est le sang des vivants, l'eternité doit être du sang d'ombre"

domingo, 18 de julho de 2010

O Tesouro Verde das Palavras

Muitas e muitas vezes, dei por mim a pensar que há algumas pessoas, um número muito reduzido de pessoas, que são mesmo mesmo únicas. Insubstituíveis. Tivera eu poder e decretaria que essas pessoas ficariam vivas para sempre. Matilde Rosa Araújo era (como me dói este imperfeito…) uma dessas pessoas.
Há uns anos atrás, tendo sido convidada a apresentar uma comunicação num Colóquio de Literatura Infanto-Juvenil que lhe foi dedicado, surgiu-me a expressão síntese: Matilde-Mulher-Múltipla.
Sobre Matilde Rosa Araújo, escritora consagrada, detentora de prémios prestigiados, como o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças, que lhe foi atribuído em 1980, “espécie de Mãe” da Literatura Infantil e Juvenil, dos seus livros de poesia singulares – O Livro da Tila, O Cantar da Tila, A Guitarra da Boneca, Mistérios, As Fadas Verdes, da prosa poética de O Sol e o Menino dos Pés Frios e de O Palhaço Verde, já muito se disse. O seu papel de educadora empenhada, de cidadã activa e interveniente, paladina da defesa dos direitos da criança, ligada à fundação do Comité Português da Unicef e do Instituto de Apoio à Criança, foi sublinhado por um coro de vozes que se ergueu há poucos dias atrás, quando nos deixou, no dia 6 deste mês de Julho, depois de ter habitado o planeta Terra durante 89 anos.
Com o desaparecimento de Matilde perdi uma figura materna que me marcou, profunda e estruturalmente. Gostaria de ser capaz de dar um testemunho mais rico, mas a minha voz afoga-se.
Para me sossegar, leio uma das suas canções de embalar e digo-me, que de algum modo, há pessoas que ficam vivas para sempre. Enquanto eu viver guardarei em mim a memória viva do seu afecto, do seu humor, do seu sorriso doce, da sua voz grave, do seu olhar profundo.
E as suas palavras, as que nos deixou nos seus livros, far-me-ão companhia. Para sempre.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Viva o Cinema!

Ao falar de leitura, da verdadeira leitura, muitas vezes se emprega a expressão "leitura literária". Qual será a expressão correspondente no mundo do cinema?
Vem isto a propósito da projecção de "L'Atalante"(1934), filme de Jean Vigo (1905-1934) a que acabo de assistir na sala estúdio do Teatro do Campo Alegre, último reduto da cinefilia na cidade do Porto.
Era um dos filmes favoritos de Henrique Alves Costa, cinéfilo notável, que teria feito 100 anos no passado sábado, fundador do Cine-Clube do Porto, e que por isso foi escolhido para a homenagem que lhe foi prestada na sua cidade. Antes da projecção Henrique Alves Costa foi recordado nas palavras emocionadas de Manoel de Oliveira, de André Oliveira e do seu filho Alexandre Alves Costa.
Sala mais que esgotada, demasiado pequena para conter amigos e conhecidos, que ao longo dos anos têm povoado a minha vida nesta cidade. Filme belíssimo, profundamente poético, que revi com um prazer imenso.
Além de ter conhecido pessoalmente Henrique Alves Costa, vi claramente visto Michel Simon, o inesquecível marinheiro excêntrico de L' Atalante, há muitos anos atrás, na Praça de São Marcos em Veneza...

sábado, 3 de julho de 2010

Os dias que hão-de vir

A Cabeça no Ar

As coisas melhores são feitas no ar,
andar nas nuvens, devanear,
voar, sonhar, falar no ar,
fazer castelos no ar e ir para lá morar,
ou então estar em qualquer sítio só a estar,
a respiração a respirar,
o coração a pulsar,
o sangue a sangrar,
a imaginação a imaginar,
os olhos a olhar
(embora sem ver)
e ficar muito quietinho a ser,
os tecidos a tecer,
os cabelos a crescer.
E tudo isto a saber,
que isto tudo está a acontecer!
As coisas melhores são de ar
só é preciso abrir os olhos e olhar,
basta respirar.

Manuel António PINA, O Pássaro na cabeça