Namaskar!

Welcome! Bem-Vindos! Bienvenidos! Bienvenus!
Ensaio geral... Primeiros passos no mundo da blogosfera.
Muitas aprendizagens a fazer pelo caminho.
Duas frases de hoje:
1ª de promoção da leitura na Crosswords, livraria em Puna, Índia do Sul:
"You don't open a book, You open a mind".
2ª, ao acaso, nas obras de M. Yourcenar:
"Puisque le Temps est le sang des vivants, l'eternité doit être du sang d'ombre"

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Há um rio e o outro lado do rio

O tempo é o que se faz com ele. Há dias que se sucedem aos dias sem que nada de extraordinário pareça acontecer. Rotinas, mais ou menos securizantes, nas quais nos encaixamos e que vão contribuindo para dar algum sentido e alguma medida ao quotidiano. E há dias dilatados, intensos, brilhantes. Dias com afectos, dias com amigos, dias em que estamos exactamente onde queríamos estar.
E em todos, mas todos os dias que vivo, há sempre lugar para a palavra, para a Poesia, porto seguro neste mundo de (acrescidas) perplexidades.

Não é qualquer ilusão
se estes olhos com que vejo,
olhos brancos e doirados,
revelam que o que faço
me faz a mim, me desvela,
à vela numa viagem
onde não há outro porto
que o mesmo de viajar:
mas o que vejo e revejo,
se me salva e me transporta,
existe aqui com as cores
que não fui eu que lhe dei.

Pedro Tamen,
o livro do sapateiro, D.Quixote

quinta-feira, 14 de abril de 2011

De la musique avant toute chose

Momentos gratificantes, vividos nuns tempos particularmente intensos, ampliam o meu quotidiano, ambos vividos na Casa da Música. A brilhante aula que João Fernandes, Director do Museu de Serralves deu na segunda-feira sobre "Os Artistas", integrada no 4º módulo do Curso Livre de História da Música e o magnífico concerto a que acabo de assistir esta noite do pianista russo Grigori Sokolov, que tive a felicidade de ouvir tocar, já pela terceira vez.
Frederico Lourenço tinha razão quando escreveu que a música é uma espécie de cola que junta os pedaços da alma...

terça-feira, 12 de abril de 2011

Os olhos e a memória

Homenagem a Bashô

1.
Um mar azul
pintou de branco
o voo das gaivotas.
2.
com a lâmpada das suas
asas acesas, a libélula
ignora a noite
3.
o dia lega
à noite, em testamento
a lua.
4. Do sangue e dos músculos
da árvore faz
o picapau um templo.
5.
Despida, à tona
da água, a rã
vê-se ao espelho.
6.
no pico mais alto
da montanha a neve
é azul.

Albano Martins, Uma Rã Que Salta, Limiar

domingo, 10 de abril de 2011

Todo o mundo é composto de mudança

Dois dos melhores intérpretes de Commedia dell'Arte da actualidade



“Tornar-se-ão Bobos! Farão com que todo o mundo rebente a rir, com que cada temor seja envolto numa explosão de riso!”

Inspirada na tradição popular italiana, Fabula Buffa conta o nascimento do contador de histórias com o seu olhar irónico e grotesco sobre uma realidade nem sempre tranquilizadora. Dois pedintes da época pré-cristã, um paralítico e um cego, são milagrosamente curados contra vontade. São agora obrigados a enfrentar a realidade como as pessoas normais. Esta mudança traumática cria duas reacções opostas que conduzem à mesma trágica decisão: a de se suicidarem, quando eis que inesperadamente surge um outro milagre dos céus..."

Assim se refere a imprensa ao espectáculo brilhantemente interpretado pelos actores italianos Fabio Gorgolini e Ciro Cesarano, que tentaram comunicar em "italinês" com o público do Pequeno Auditório do Teatro Rivoli, hoje à noite, no Porto.

Estranho mesmo foi voltar àquele espaço, tão carismático da vida cultural portuense há uns anos atrás enquanto esteve sob a direcção de Isabel Alves Costa, e senti-lo tão descaracterizado.

Fogo sobre Fogo

Topázios

É tão difícil
manter o equilíbrio
sobre um raio de luz

Jorge Sousa Braga, O Poeta Nu
Assírio & Alvim

quinta-feira, 7 de abril de 2011

"Sinto-me como se tivesse cegado por excesso de olhar o mundo"

Antes o voo da ave que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.

A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos