Namaskar!

Welcome! Bem-Vindos! Bienvenidos! Bienvenus!
Ensaio geral... Primeiros passos no mundo da blogosfera.
Muitas aprendizagens a fazer pelo caminho.
Duas frases de hoje:
1ª de promoção da leitura na Crosswords, livraria em Puna, Índia do Sul:
"You don't open a book, You open a mind".
2ª, ao acaso, nas obras de M. Yourcenar:
"Puisque le Temps est le sang des vivants, l'eternité doit être du sang d'ombre"
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domingo, 7 de agosto de 2011

Uma ofuscante ausência de luz

"Sonho com palavras, com ouvi-las e fazê-las entrar na minha cabeça, vesti-la com imagens, fazê-las girar num carrossel, guardá-las e voltar a passar o filme quando estou mal, quando a loucura espreita."

Tahar Ben Jelloun, Uma ofuscante ausência de luz, Asa

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Meu Querido Mês de Agosto

Não, não vou escrever sobre o filme "Meu Querido Mês de Agosto", filmado nas Beiras em sítios por onde andei há pouco, e que tão significativo é sobre o que é ser português hoje. Apenas recupero o título para "justificar" alguma ausência nestas lides virtuais, que de resto já vem de trás.
É tempo de grandes passeios, nos mares ( sendo o Egeu, povoado de 1400 ilhas o mais recentemente sulcado), nas serras (a de Sintra, uma vez mais visitada num passeio nocturno em enevoada noite de Lua Nova), nos livros (delicioso "Pranto por Vila Viçosa" de Rui Caeiro, que acabo de devorar), tudo na boa companhia dos Amigos, agulhas de marear da minha existência.

terça-feira, 19 de julho de 2011

O Tempo de um Corisco

Dos turcos desce a palavra
e aqui entreluz, naufraga.

A palavra a ninguém salva.

Melhor metê-la, sem esperança,
sem recado, na garrafa.

Sempre é da minha lavra.

Alexandre O'Neill,
Feira Cabisbaixa, Ulisseia

domingo, 17 de julho de 2011

Tanka

Vem já sem demora -
assim que estas flores abrirem,
logo irão cair.
Esta vida é como o brilho
do orvalho sobre as flores.

Isumi Shikibu
(974?-1034?)
O Japão no Feminino
TANKA Séculos IX a XI, Assírio & Alvim

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A gratuitidade de existir

Campo

Estou só nos campos
A doce noite murmura
A lua me ilumina
Corre em meu coração um rio de frescura
De tudo o que sonhou minha alma se aproxima.

Sophia de M.Breyner Andresen
Livro Sexto, Edições Salamandra

domingo, 3 de julho de 2011

Yogena Cittasya

Nesta circunstância, como em qualquer outra, parar é morrer. Demasiado drástico. Não é bem isso. Trata-se tão só da dificuldade de recomeçar, quando se interrompe uma rotina. Também no Iyengar Yoga é assim. Se paro, uma semanita que seja, tudo se torna mais difícil, o corpo parece perder flexibilidade. Et pourtant, a pouco e pouco ela regressa, mas nunca como nas aulas no R.I.M.Y.I., em Puna, que gostaria de voltar a frequentar um dia.
"My body are my temple and asanas are my prayers".
Não fora a prática regular e teria metade da energia e da força de viver. Aqui, como na India, repito o mantra inicial:
Yogena Cittasya Padena Vacam
Malam Sarirasya Ca Vaidyakena
Yopakarottam Pravaram Muninam
Patanjalim Prajalir Anato'smi
Abahu Purusakaram
Sankha Cakrasi Dharinam
Sahasra Sirasam Svetam
Pranamami Patanjalim

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Olá Caeiro!

Estar
triste
é apenas
estar
doente

É preciso
encontrar
cura
não razões.

E a cura
é
sobretudo
deixar
passar.

Teresa Rita Lopes
A Fímbria da Fala
editorausência

sábado, 18 de junho de 2011

Là Haut Sur La Montagne

Hoje meditei numa distante falésia
Depois de muito tempo bruma e nuvens retiraram-se

Um só caminho: o curso da fria água clara
Ao longe o cimo dos montes verdejantes

Calma e sombra matinal das núvens brancas
A luz do luar brilhante flutua

No meu corpo não há pó nem sujidade
Porque está meu coração inquieto?


Han-San
O vagabundo do Dharma, Cavalo de Ferro

terça-feira, 17 de maio de 2011

Palavras encontradas

A porta está fechada
Um sorriso abre-a
Uma palavra também
Se for uma palavra chave.

Álvaro Magalhães
O Limpa-Palavras, Asa

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O estilhaçar do vidro

Os nossos dias fogem tão rápido como a água do rio
ou vento do deserto.
Entretanto há dois dias que me deixam indiferente:
o que passou ontem e o que virá amanhã.
Omar Khayyam,
Rubaiyat, Moraes

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Há um rio e o outro lado do rio

O tempo é o que se faz com ele. Há dias que se sucedem aos dias sem que nada de extraordinário pareça acontecer. Rotinas, mais ou menos securizantes, nas quais nos encaixamos e que vão contribuindo para dar algum sentido e alguma medida ao quotidiano. E há dias dilatados, intensos, brilhantes. Dias com afectos, dias com amigos, dias em que estamos exactamente onde queríamos estar.
E em todos, mas todos os dias que vivo, há sempre lugar para a palavra, para a Poesia, porto seguro neste mundo de (acrescidas) perplexidades.

Não é qualquer ilusão
se estes olhos com que vejo,
olhos brancos e doirados,
revelam que o que faço
me faz a mim, me desvela,
à vela numa viagem
onde não há outro porto
que o mesmo de viajar:
mas o que vejo e revejo,
se me salva e me transporta,
existe aqui com as cores
que não fui eu que lhe dei.

Pedro Tamen,
o livro do sapateiro, D.Quixote

terça-feira, 12 de abril de 2011

Os olhos e a memória

Homenagem a Bashô

1.
Um mar azul
pintou de branco
o voo das gaivotas.
2.
com a lâmpada das suas
asas acesas, a libélula
ignora a noite
3.
o dia lega
à noite, em testamento
a lua.
4. Do sangue e dos músculos
da árvore faz
o picapau um templo.
5.
Despida, à tona
da água, a rã
vê-se ao espelho.
6.
no pico mais alto
da montanha a neve
é azul.

Albano Martins, Uma Rã Que Salta, Limiar

domingo, 10 de abril de 2011

Fogo sobre Fogo

Topázios

É tão difícil
manter o equilíbrio
sobre um raio de luz

Jorge Sousa Braga, O Poeta Nu
Assírio & Alvim

quinta-feira, 7 de abril de 2011

"Sinto-me como se tivesse cegado por excesso de olhar o mundo"

Antes o voo da ave que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.

A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos

quarta-feira, 30 de março de 2011

Plaisir d'amour

Conta-mo outra vez

Conta-mo outra vez: é tão bonito
que não me canso nunca de escutá-lo.
Repete-me outra vez que o par
do conto foi feliz até à morte.
Que ela não lhe foi infiel, que a ele nem sequer
lhe ocorreu enganá-la.
E não te esqueças que apesar do tempo e dos problemas
Continuaram beijando-se cada noite.
Conta-mo mil vezes por favor:
é a história mais bela que conheço.

Amalia Bautista, Qual é a minha ou a tua língua?
Assirio & Alvim

terça-feira, 29 de março de 2011

Do rio que tudo arrasta...

O GUARDA-RIOS

É tão difícil guardar um rio
quando ele corre
dentro de nós

Jorge Sousa Braga, O Poeta Nu
Assírio & Alvim

sábado, 26 de março de 2011

Dia Mundial do Teatro

O Dia Mundial do Teatro é já amanhã. E eu, espectactora assídua, habitada pelo "bichinho do teatro" desde os tempos de faculdade, em que integrei um grupo de teatro universitário, rumei ao Teatro Carlos Alberto para ver "Glória ou como Penélope morreu de tédio". Acontece que em noite de estreia, a lotação estava esgotada e a empregada da bilheteira sugeriu um espectáculo, igualmente integrado no programa "Odisseia", no Estúdio Zero, um pouco mais fora de mão na Rua do Heroísmo. E foi assim que em boa hora assisti, na primeira fila a "Holiday", da companhia australiana Ranthers Theatre.
"De Holiday pode dizer-se que é uma gentil provocação. Num pacato dia de férias dois estranhos descansam junto a uma piscina. Nada têm para fazer e provavelmente nada têm para dizer. Todavia, sob diálogos aparentemente inconsequentes e longos silêncios, circulam fantasisa íntimas, ansiedades e culpas encapotadas, inquietações que se plasmam em inesperadas canções barrocas, cantadas pelos actores em calções de banho. Uma incursão nas complexidades do chamado "homem simples", feita num frugal quadro cénico, uma das imagens de marca da companhia de Melbourne, a par do primado absoluto de uma representção viva."
Texto inserido no postal

quinta-feira, 24 de março de 2011

Ninguém há-de calar a Primavera!

Em Março se assinala o "Dia Mundial da Poesia", comemorado com grande pompa e circunstância no CCB no último domingo. Mas não será só por isso que ao longo deste mês me tenho servido de "palavras dos outros", que tantas e tantas vezes dizem melhor aquilo que quero dizer.
Mais logo, no TCA, ouvirei mais vozes de outros Poetas na sessão "Ninguém há-de calar a Primavera!" das Quintas de Leitura.
Nem só de poesia vive o homem... mas a vida sem poesia seria bem mais complicada!

terça-feira, 15 de março de 2011

Não uma rosa vermelha ou um coração de cetim

Caminho

que rua é esta que nos separa
ao longo da qual seguro a mão dos meus pensamentos
uma flor está escrita na ponta de cada dedo
e o fim da rua é uma flor que caminha comigo

Tristan Tzara,
Qual é a minha ou a tua língua?
Cem poemas de amor de outras línguas,
Assírio & Alvim

domingo, 13 de março de 2011

Le Temps des merveilles

Comment?

Comment va le monde?
Il va comme il va
La machine est lourde
On la traînera.

Comment va la vie?
Va comme on la pousse
Le sang se fait vieux
Le coeur s'est fait mousse.

Comment va l'amour?
Il avait tant plu
Que la terre est morte
On n'en parle plus.

Pierre Seghers,
Anthologie de la poésie française du XX siècle, Gallimard