Lentamente, quase diria timidamente, tento reencontrar os pequenos prazeres que a minha cidade tem para me oferecer. Já revisitei alguns Amigos, já passei uma tarde à beira Atlântico, belo e revolto. Ontem fui ao lançamento da antologia "Poemas com Cinema", publicada pela Assírio e Alvim. Além dos 3 organizadores, falaram os poetas Manuel Gusmão, Manuel António Pina (como sempre desconcertante!) e Ana Luísa Amaral e Daniel Jonas, que leram alguns dos poemas antologiados. A sessão terminou com um documentário de Fernando Lopes, produzido para a Porto 2001.
«CINEMA pretende ser a visitação de uma sala? “Sá da Bandeira”? cheia de tradições cinéfilas e hoje confinada à morte das imagens tradicionais do cinema. O “Sá da Bandeira” que passa filmes pornográficos testemunha, por um lado, a memória dessas imagens, a sua perenidade, mas também a sua morte, aquilo a que poderemos chamar a pornografia do cinema enquanto imaginário e ícone visual do nosso tempo – o de Aurélio da Paz dos Reis até à indústria do espectáculo. O título deste filme vem directamente de Carlos de Oliveira, poeta maior, e que sobre a fragilidade e fascínio das imagens teve fulgurantes reflexões.»
Fernando Lopes, O Olhar de Ulisses – vol 3, A Utopia do Olhar, Porto, 2001
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Segundo Balcão dos Bombeiros
Nesse tempo eu já lera as Bronte mas
como era um adolescente retardado
passava a noite em atrozes dilemas
que mais vale: amar, ser doutrem amado?
ainda não descobrira o simples disto
nem o essencial disto que é tão claro
se tudo no amor vem do imprevisto
deitar regras ao jogo pode sair caro
por isso eu amo e sou ou não benquisto
depende do instante bem ou mal azado
amor tem alegria, tem enfado
o happy end é coisa dos cinemas
Fernando Assis Pacheco, Poemas com Cinema, Assírio e Alvim, Lisboa 2010
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