domingo, 7 de agosto de 2011
Uma ofuscante ausência de luz
Tahar Ben Jelloun, Uma ofuscante ausência de luz, Asa
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Meu Querido Mês de Agosto
É tempo de grandes passeios, nos mares ( sendo o Egeu, povoado de 1400 ilhas o mais recentemente sulcado), nas serras (a de Sintra, uma vez mais visitada num passeio nocturno em enevoada noite de Lua Nova), nos livros (delicioso "Pranto por Vila Viçosa" de Rui Caeiro, que acabo de devorar), tudo na boa companhia dos Amigos, agulhas de marear da minha existência.
terça-feira, 19 de julho de 2011
O Tempo de um Corisco
e aqui entreluz, naufraga.
A palavra a ninguém salva.
Melhor metê-la, sem esperança,
sem recado, na garrafa.
Sempre é da minha lavra.
Alexandre O'Neill,
Feira Cabisbaixa, Ulisseia
domingo, 17 de julho de 2011
Tanka
assim que estas flores abrirem,
logo irão cair.
Esta vida é como o brilho
do orvalho sobre as flores.
Isumi Shikibu
(974?-1034?)
O Japão no Feminino
TANKA Séculos IX a XI, Assírio & Alvim
segunda-feira, 11 de julho de 2011
A gratuitidade de existir
Estou só nos campos
A doce noite murmura
A lua me ilumina
Corre em meu coração um rio de frescura
De tudo o que sonhou minha alma se aproxima.
Sophia de M.Breyner Andresen
Livro Sexto, Edições Salamandra
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Contra a corrente
. In generosity and helping others be like a river
. In compassion and grace be like sun
. In concealing other's faults be like night
. In anger and fury be like dead
. In midesty and humility be like earth
. In tolerance be like a sea
. Either exist as you are or be as you look
Hz. MEVLANA
Texto em inglês dum postal bilingue, que trouxe de um templo, na minha última ida a KONYA, a cidade dos "derviches tourneurs" na Turquia.
domingo, 3 de julho de 2011
Yogena Cittasya
"My body are my temple and asanas are my prayers".
Não fora a prática regular e teria metade da energia e da força de viver. Aqui, como na India, repito o mantra inicial:
Yogena Cittasya Padena Vacam
Malam Sarirasya Ca Vaidyakena
Yopakarottam Pravaram Muninam
Patanjalim Prajalir Anato'smi
Abahu Purusakaram
Sankha Cakrasi Dharinam
Sahasra Sirasam Svetam
Pranamami Patanjalim
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Olá Caeiro!
triste
é apenas
estar
doente
É preciso
encontrar
cura
não razões.
E a cura
é
sobretudo
deixar
passar.
Teresa Rita Lopes
A Fímbria da Fala
editorausência
sábado, 18 de junho de 2011
Là Haut Sur La Montagne
Depois de muito tempo bruma e nuvens retiraram-se
Um só caminho: o curso da fria água clara
Ao longe o cimo dos montes verdejantes
Calma e sombra matinal das núvens brancas
A luz do luar brilhante flutua
No meu corpo não há pó nem sujidade
Porque está meu coração inquieto?
Han-San
O vagabundo do Dharma, Cavalo de Ferro
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Decir LLuvia y que llueva
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Mad Rush, Metamorphosis e outros prodígios
A Sala Suggia foi um prolongamento da minha própria sala, onde tantas e tantas vezes soaram Mad Rush, Metamorphosis, Wichita Sutra Vortex.
Numa sala cheia, incluindo os lugares por detrás do palco, um público atento rendeu-se à magia desta música "minimanista", interpretada pelo seu criador. Em Wichita Vortex Sutra, fez-se presente o fantasma do poeta beat americano Allen Ginsberg, que colaborou com Philip Glass, através da audição de uma gravação da sua voz.
E quem mais quiser saber, tem muito para ver e ouvir no You Tube e no profissionalíssimo site deste músico.
Por mim, preparo-me para adormecer uma vez mais ao som da banda sonora de Kundum...
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Medeia
Ainda sob o feitiço esmagador que me provocou a beleza feroz desta Medeia negra, que faz pensar com Heiner Muller que os povos africanos são hoje os únicos que podem tocar de perto a essência do trágico, transcrevo um fragmento do comentário que acompanha a peça:
"No terreno (Burquina Faso)Martinelli descobriu o porquê desta proximidade entre a Grécia Antiga e a África contemporânea: a violência e a guerra, o nascimento balbuciante da democracia e a omnipresença do sagrado na vida quotidiana. (...) É nesta paisagem desoladora que ecoam as imprecações desta feiticeira sedenta de vingança que vai até ao impensável para punir a traição de Jasão."
sexta-feira, 20 de maio de 2011
AnimaMea
"Aquela cativa que me tem cativo" - Camões, Poesia e Música, em perfeita sintonia!
quinta-feira, 19 de maio de 2011
à vol d'oiseau...
Se escolher falar de música, Steve Reich, também claramente visto/ouvido em palestra e concerto na Casa da Música.
Deixo de fora os céus, as cidades, as ilhas e os mares onde os meus passos me têm levado nos tempos mais recentes. As asas dos aviões dão asas às asas que tenho nos pés!
terça-feira, 17 de maio de 2011
Palavras encontradas
Um sorriso abre-a
Uma palavra também
Se for uma palavra chave.
Álvaro Magalhães
O Limpa-Palavras, Asa
quarta-feira, 11 de maio de 2011
O estilhaçar do vidro
ou vento do deserto.
Entretanto há dois dias que me deixam indiferente:
o que passou ontem e o que virá amanhã.
Omar Khayyam,
Rubaiyat, Moraes
sexta-feira, 29 de abril de 2011
Há um rio e o outro lado do rio
E em todos, mas todos os dias que vivo, há sempre lugar para a palavra, para a Poesia, porto seguro neste mundo de (acrescidas) perplexidades.
Não é qualquer ilusão
se estes olhos com que vejo,
olhos brancos e doirados,
revelam que o que faço
me faz a mim, me desvela,
à vela numa viagem
onde não há outro porto
que o mesmo de viajar:
mas o que vejo e revejo,
se me salva e me transporta,
existe aqui com as cores
que não fui eu que lhe dei.
Pedro Tamen,
o livro do sapateiro, D.Quixote
quinta-feira, 14 de abril de 2011
De la musique avant toute chose
Frederico Lourenço tinha razão quando escreveu que a música é uma espécie de cola que junta os pedaços da alma...
terça-feira, 12 de abril de 2011
Os olhos e a memória
1.
Um mar azul
pintou de branco
o voo das gaivotas.
2.
com a lâmpada das suas
asas acesas, a libélula
ignora a noite
3.
o dia lega
à noite, em testamento
a lua.
4. Do sangue e dos músculos
da árvore faz
o picapau um templo.
5.
Despida, à tona
da água, a rã
vê-se ao espelho.
6.
no pico mais alto
da montanha a neve
é azul.
Albano Martins, Uma Rã Que Salta, Limiar
domingo, 10 de abril de 2011
Todo o mundo é composto de mudança
Dois dos melhores intérpretes de Commedia dell'Arte da actualidade
“Tornar-se-ão Bobos! Farão com que todo o mundo rebente a rir, com que cada temor seja envolto numa explosão de riso!”
Inspirada na tradição popular italiana, Fabula Buffa conta o nascimento do contador de histórias com o seu olhar irónico e grotesco sobre uma realidade nem sempre tranquilizadora. Dois pedintes da época pré-cristã, um paralítico e um cego, são milagrosamente curados contra vontade. São agora obrigados a enfrentar a realidade como as pessoas normais. Esta mudança traumática cria duas reacções opostas que conduzem à mesma trágica decisão: a de se suicidarem, quando eis que inesperadamente surge um outro milagre dos céus..."
Assim se refere a imprensa ao espectáculo brilhantemente interpretado pelos actores italianos Fabio Gorgolini e Ciro Cesarano, que tentaram comunicar em "italinês" com o público do Pequeno Auditório do Teatro Rivoli, hoje à noite, no Porto.
Estranho mesmo foi voltar àquele espaço, tão carismático da vida cultural portuense há uns anos atrás enquanto esteve sob a direcção de Isabel Alves Costa, e senti-lo tão descaracterizado.
Fogo sobre Fogo
É tão difícil
manter o equilíbrio
sobre um raio de luz
Jorge Sousa Braga, O Poeta Nu
Assírio & Alvim
quinta-feira, 7 de abril de 2011
"Sinto-me como se tivesse cegado por excesso de olhar o mundo"
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!
Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos
quarta-feira, 30 de março de 2011
Plaisir d'amour
Conta-mo outra vez: é tão bonito
que não me canso nunca de escutá-lo.
Repete-me outra vez que o par
do conto foi feliz até à morte.
Que ela não lhe foi infiel, que a ele nem sequer
lhe ocorreu enganá-la.
E não te esqueças que apesar do tempo e dos problemas
Continuaram beijando-se cada noite.
Conta-mo mil vezes por favor:
é a história mais bela que conheço.
Amalia Bautista, Qual é a minha ou a tua língua?
Assirio & Alvim
terça-feira, 29 de março de 2011
Do rio que tudo arrasta...
É tão difícil guardar um rio
quando ele corre
dentro de nós
Jorge Sousa Braga, O Poeta Nu
Assírio & Alvim
sábado, 26 de março de 2011
Dia Mundial do Teatro
"De Holiday pode dizer-se que é uma gentil provocação. Num pacato dia de férias dois estranhos descansam junto a uma piscina. Nada têm para fazer e provavelmente nada têm para dizer. Todavia, sob diálogos aparentemente inconsequentes e longos silêncios, circulam fantasisa íntimas, ansiedades e culpas encapotadas, inquietações que se plasmam em inesperadas canções barrocas, cantadas pelos actores em calções de banho. Uma incursão nas complexidades do chamado "homem simples", feita num frugal quadro cénico, uma das imagens de marca da companhia de Melbourne, a par do primado absoluto de uma representção viva."
Texto inserido no postal
quinta-feira, 24 de março de 2011
Ninguém há-de calar a Primavera!
Mais logo, no TCA, ouvirei mais vozes de outros Poetas na sessão "Ninguém há-de calar a Primavera!" das Quintas de Leitura.
Nem só de poesia vive o homem... mas a vida sem poesia seria bem mais complicada!
Saudação à Primavera!
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Alberto Caeiro
terça-feira, 15 de março de 2011
Não uma rosa vermelha ou um coração de cetim
que rua é esta que nos separa
ao longo da qual seguro a mão dos meus pensamentos
uma flor está escrita na ponta de cada dedo
e o fim da rua é uma flor que caminha comigo
Tristan Tzara,
Qual é a minha ou a tua língua?
Cem poemas de amor de outras línguas,
Assírio & Alvim
domingo, 13 de março de 2011
Le Temps des merveilles
Comment va le monde?
Il va comme il va
La machine est lourde
On la traînera.
Comment va la vie?
Va comme on la pousse
Le sang se fait vieux
Le coeur s'est fait mousse.
Comment va l'amour?
Il avait tant plu
Que la terre est morte
On n'en parle plus.
Pierre Seghers,
Anthologie de la poésie française du XX siècle, Gallimard
La eternidad está en las cosas del tiempo...
nem o ponto ideal,
nem o momento
de coser, de colar a quente ou frio.
Não escolho bem nem mal:
tento,
invento."
Pedro Tamen, O livro do sapateiro, D.Quixote
domingo, 27 de fevereiro de 2011
"As palavras são apenas uma memória"
Nem só a Física se debruçou sobre as questões da inércia. Sinto-as na pele. Quando paro por uns dias é sempre mais difícil recomeçar. Et pourtant temas não faltam sobre os quais tecer múltiplas variações. Mas não vou entrar, como é meu costume na "vertigem das listas", pelo menos de forma compulsiva. Das viagens, a neve, pontuada de coníferas, na Serra de Guadarrama e o Alcazar de Segóvia, que poderia ter sido arquétipo do castelo da Bela Adormecida de Walt Disney; dos filmes dois registos separados por mais de meio século: "Contos de Lua Vaga" de Kenzo Mizoguchi e "Somewhere" de Sofia Coppola; das exposições a ARCOmadrid 2011 e Artur Loureiro, no Museu Soares dos Reis no Porto; da Literatura , das "correntes d'escritas" a surpreendente conferência de abertura de Álvaro Laborinho Lúcio e a presença anarquista de Rui Reininho nas últimas Quintas de Leitura, no Teatro do Campo Alegre; no Iyengar yoga continuo em recuperativas. E logo é a noite dos óscares.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
City Life
It's been a honeymoon
Can't Take no mo'
Heavy smoke
stand by, stand by
It's full'a smoke
urgent!
Guns, knives or weapons on ya'?
Wha'were ya'doin'?
Be careful
where you go
*frases gravadas, City Life - Steve Reich
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Aniversário de Ganesh na Amazónia
Continuo sem saber muito bem para que serve, para quem escrevo, quem me lê. Registo e partilha, duas funções nobres, que em si, porventura justificam, este meu "ganeshnaamazonia".
Quantos antes de mim, quantos ao mesmo tempo que eu, quantos depois de mim, com semelhante ambição?
E vem-me à memória a frase de Teixeira de Pascoaes: "O homem, ao morrer, apaga com o último suspiro, o mundo em que viveu."
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
"A única coisa que temos é, de facto, o nosso corpo"
Talk Show é uma obra para quatro intérpretes e duas colunas de som. Um questionamento sobre o corpo enquanto sistema comunicante e sobre o seu desaparecimento ao longo da vida no território maior da sua evidência, o amor.
Acabo de assistir no Teatro Carlos Alberto a esse "road movie do corpo" que é esta surpreendente criação do coreógrafo Rui Horta.
Sob o signo da emoção, e de alguma fragilidade física que me tem assolado, somo-o, sem mais, às inquietudes que HearAfter, de Clint Eastwood me provocou. há uns dias atrás.
Bem que questiono, ou uma parte de mim questiona, a asserção de José Gil: a única coisa que temos é, de facto, o nosso corpo.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Música, músicas
ORQUESTRA
Foi o foxtrote que acordou
os peixinhos do lago, na sala de espera,
ou foram eles, os minúsculos, insones peixinhos,
que fizeram acordar Sweet Georgia Brown
entre Body and Soul, para o tea for two,
enquanto não se abrem, rascantes, as portas da segunda sessão?
Carlos Drummond de Andrade
Esquecer para lembrar, José Olympio
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Os quatro cantos do tempo
Vamos abrir a noite Vamos abrir a noite
com música de "jazz" Percorrê-la depois
num barco de borracha Celebrar o segredo
Enforcar a memória Descobrir de repente
uma ilha que nasce dentro do teu vestido
Chamar-lhe Madrugada Adormecer contigo.
David MOURÃO-FERREIRA,
Os quatro cantos do tempo, Guimarães Editora
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
"Fala-me, Musa, do Homem astuto que tanto vagueou...
destas coisas fala-nos agora, ó filha de Zeus."
HOMERO
Odisseia.Tradução de Frederico Lourenço, Lisboa, Cotovia, 2003
"De que falamos quando falamos da Odisseia?" - tema de um colóquio, organizado conjuntamente pelo TNSJ, Centro Cultural Vila Flor, Theatro Circo e Teatro de Vila Real, em colaboração com a União dos Teatros da Europa, que decorreu a 28 e 29 de Janeiro, no Mosteiro de São Bento da Vitória, no qual participei como membro da assistência.
A minha paixão pela Grécia Antiga, pela Mitologia Grega, acompanha-me desde a adolescência e Ulisses, é, sem sombra de dúvidas um dos meus Heróis.
A 1a versão/ adaptação da Odisseia que tive nas mãos foi a dos clássicos Sá da Costa, na adaptação de João de Barros, "para as crianças e para o povo".
Tive o privilégio de ser aluna, na Universidade de Coimbra, de Maria Helena da Rocha Pereira, sábia helenista, com quem tanto aprendi. Como Professora de Português li dezenas de vezes para/com os alunos a adaptação de Maria Alberta Menéres, o "Ulisses", capaz de entusiasmar mesmo os mais desinteressados.
A belíssima tradução em verso de Frederico Lourenço foi um dos livros que escolhemos, sob proposta minha, para ler numa das Comunidades de Leitores da BMAG, num período em que estivemos em "autogestão", tendo Frederico Lourenço acedido ao nosso convite de animar uma interessantíssima conversa à roda do seu trabalho de estudioso e tradutor.
Neste Colóquio sobre a "Odisseia" ouvi Delfim F. Leão e Maria do Céu Fialho, da Universidade de Coimbra, falar sobre o livro. Mas não foi apenas disso que se tratou. A Odisseia como metáfora do nosso tempo, a procura "nas origens literárias e mitológicas da nossa civilização as questões nucleares com que se debatem sociedades e indivíduos neste mundo contemporâneo", eis onde se encontram as linhas com que se teceu este encontro.
Provavelmente não por acaso, em Serralves, a par da polémica e gigante exposição "Às Artes, Cidadãos!", está a decorrer um programa que inclui cinema, conferências, música, perfomance, seminários e teatro sob o título genérico "Arte, Política, Globalização".
Tentativas de construção de plataformas de pensamento/acção transdisciplinares, no cruzamento de fronteiras geográficas (líquidas e outras) e disciplinares.
Também há motivos de interesse longe do Mekong...
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
OCK POP TOK
Com o frio que reina nesta terra a que regressei, a que tento
readaptar-me, com pouco sucesso, ainda não foi possível vestir nenhuma das blusas de seda que tem essa etiqueta.
"Who are we ad what we do?" Quem somos e o que fazemos? Esta é a pergunta repetidamente feita a propósito das muitas actividades que se praticam no Laos.
Ock Pop Tok existe desde 2000 e, tal como o nome indica, procura juntar ideias, pessoas e materiais à volta dos téxteis, para que haja troca de conhecimentos e de ideias entre povos de diferentes zonas geográficas. Em Luang Prabang, não só estivemos na loja e na galeria, como assistimos a uma conferência sobre a repetição de padrões, nos diferentes locais do planeta Terra. Um "tuk-tuk" gratuito levou-nos ao "Weaving Center", onde vimos uma belíssima exposição sobre os processos de produção de seda natural, as tintas naturais utilizadas para tingir, a tecelagem manual que, lentamente, progride nos diversos teares.
Tudo isto, numas instalações minimalistas belíssimas à beira do Mekong.
Correndo embora o risco de me repetir reafirmo que soubera eu mais destas lides e faria acompanhar estas palavras de alguns apontamentos fotográficos colhidos na minha Nikon.
Foi com enorme emoção que, um destes dias vi bem projectadas no écran de televisão em casa de amigos, o conjunto das muitas fotografias que fiz na Tailândia, no Laos e no Cambodja.
Ainda há muito para contar.
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Originais e cópias certificadas
Concertos, idas ao cinema e ao teatro, início da frequência de um Curso Livre de História da Música.
Das idas ao cinema, destaco "Cópia Certificada", um filme do realizador iraniano Abbas Kiarostami, que valeu a Juliette Binoche o prémio de melhor actriz no Festival de Cannes, filmado numa Toscânia belíssima, embora o foco seja o encontro/desencontro entre um homem, escritor, e uma mulher, galerista.
Noutro registo, mas igualmente a valer a pena "O Mágico", desenho animado construído sobre uma ideia de Jacques Tati, com uma personagem central que se lhe assemelha, realizado por Sylvain Chomet, filme que tinha perdido em Serralves, na abertura da Festa do Cinema Francês.
Vi no TNSJ a mais recente criação do Teatro Meridional "1974", com encenação de Miguel Seabra, que "tem como objecto temático a identidade portuguesa, cruzando três períodos da história de Portugal: Ditadura, revolução de Abril e a entrada na comunidade europeia, reflectindo ainda a nossa contemporaneidade."
Objecto cénico interessante, mas que me deixou insatisfeita. Pouca profundidade? O espectador tem que preencher os espaços em branco? Acredito que para as novas gerações funcione de maneira diferente.
Como se lê no programa, num texto de José Mário Branco "Em tudo quanto fazemos estamos sempre a contar a nossa história pessoal, porque ninguém conta nada a ninguém sem recurso às emoções e só as emoções vividas são emoções comunicáveis".
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Poemas com cinema
Lentamente, quase diria timidamente, tento reencontrar os pequenos prazeres que a minha cidade tem para me oferecer. Já revisitei alguns Amigos, já passei uma tarde à beira Atlântico, belo e revolto. Ontem fui ao lançamento da antologia "Poemas com Cinema", publicada pela Assírio e Alvim. Além dos 3 organizadores, falaram os poetas Manuel Gusmão, Manuel António Pina (como sempre desconcertante!) e Ana Luísa Amaral e Daniel Jonas, que leram alguns dos poemas antologiados. A sessão terminou com um documentário de Fernando Lopes, produzido para a Porto 2001.
«CINEMA pretende ser a visitação de uma sala? “Sá da Bandeira”? cheia de tradições cinéfilas e hoje confinada à morte das imagens tradicionais do cinema. O “Sá da Bandeira” que passa filmes pornográficos testemunha, por um lado, a memória dessas imagens, a sua perenidade, mas também a sua morte, aquilo a que poderemos chamar a pornografia do cinema enquanto imaginário e ícone visual do nosso tempo – o de Aurélio da Paz dos Reis até à indústria do espectáculo. O título deste filme vem directamente de Carlos de Oliveira, poeta maior, e que sobre a fragilidade e fascínio das imagens teve fulgurantes reflexões.»
Fernando Lopes, O Olhar de Ulisses – vol 3, A Utopia do Olhar, Porto, 2001
***
Segundo Balcão dos Bombeiros
Nesse tempo eu já lera as Bronte mas
como era um adolescente retardado
passava a noite em atrozes dilemas
que mais vale: amar, ser doutrem amado?
ainda não descobrira o simples disto
nem o essencial disto que é tão claro
se tudo no amor vem do imprevisto
deitar regras ao jogo pode sair caro
por isso eu amo e sou ou não benquisto
depende do instante bem ou mal azado
amor tem alegria, tem enfado
o happy end é coisa dos cinemas
Fernando Assis Pacheco, Poemas com Cinema, Assírio e Alvim, Lisboa 2010
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
O Mekong não é o rio que passa na minha aldeia...
Continuo a sentir-me sonâmbula, atordoada, como se a minha alma ainda estivesse por aí a pairar nalguma nuvem, entre a Ásia e a Europa. Tenho passado horas e horas a dormir, como se o corpo quisesse recuperar de todos os (bons) excessos a que foi sujeito ao longo de tantos e tantos dias de viagem.
Tenho que praticar um qualquer rito de renovação que me traga de volta o fio dos dias a viver.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Ainda da Asia
Tempo bem aproveitado, ainda deu para passear de barco no Rio, percorrer as linhas aereas do sky train, que permitem as melhores panoramicas da cidade, visitar alguns templos, saudar o Senhor Buda de deitado (que emocao!), visitar o Museu Nacional (enorme, que tal como o Prado ou o Louvre, precisaria de muitas mais visitas), a casa do Jim Thompson, o mitico Oriental, por onde passaram tantos escritores amados... Isto sem contar com a visita ao mercado de fim de semana, a deambulacao pelas ruas, as massagens, as pequeninas compras...
Agora uma longa, longa viagem de regresso.
Espero que os Reis nos ajudem a encontrar a Estrela!
sábado, 1 de janeiro de 2011
Anicca
Noite de Ano Novo em Bangkok, primeiro dia de 2011 em Bangkok. Por muitas imagens que tivesse, das fotografias e dos filmes, estar aqui e completamente diferente. Nao e comparavel a nenhuma das cidades que me foi dado ver ate ao momento. O Blade Runner, a ficcao cientifica, a banda desenhada futurista, sao palidas imagens.
Quando acabarem estas cinco semanas de viagens, vou voltar a escrever com os acentos, as cedilhas e tudo a que tenho direito.
Bom Ano Novo! Feliz 2011!
Cambodia, a Kingdom of Wonders
Vi claramente visto os motivos pelos quais estes lugares sao Patrimonio Mundial da Unesco, e sao apelidados de 0itava maravilha do mundo. Angkor Vat, as Piramedes do Egipto, o Taj Mahal na India, Machu Pichu no Peru... falta me este ultimo.
Com uma tranquilidade que nao possuo neste momento, hei de voltar a escrever sobre estes sitios.
Tenho a maquina cheia de apontamentos fotograficos e a alma cheia de memorias.
Inesquecivel a fusao, a simbiose entre a natureza e as ruinas.
Nem sei se fiquei mais impressionada com as arvores se com as ruinas...
Agradeco aos deuses terem me permitido contemplar tanta beleza!